01/06/2013

A MINHA PRIMEIRA VIAGEM A PARIS




Fazer uma viagem numa das semanas que antecedem a época natalícia, tem o seu encanto, a acrescentar à excitação que qualquer viagem proporciona.

Pois bem, a minha viagem foi encantadora!

Não sei ainda muito bem o que vou escrever, mas tentarei ser o mais fiel possível na descrição do que vi e senti nesses quatro dias em que estive pela primeira vez em Paris.

A ideia que eu tinha em relação a esta Capital, era sem sombra de dúvida muito positiva. Sempre achei que seria uma cidade bela, alegre, monumental e, sobretudo muito romântica.

Sempre vi Paris muito influenciada pelos “olhos” de Victor Hugo. Cedo li as suas obras, e devorei-as avidamente com o maior prazer. É evidente, que nesta minha visita não me deixei levar muito pelas descrições que ele faz daquela época, onde a pobreza reinava.

Soube com apenas 2 ou 3 dias de antecedência que iria mesmo a Paris. Como é lógico, fiquei entusiasmadíssima, mas confesso que ainda me passava pela cabeça que poderia ainda não ser desta.

Passados estes poucos dias, que me pareceram muitos mais, chegou finalmente o momento em que me foi dado sinal verde para fazer as malas.

No dia 13 de Dezembro de 1996, sexta-feira, passei a manhã a aprontar tudo. Depois do almoço, que ainda confeccionei, finalmente partimos para o Porto.

Eu, Leonardo e Tó. Uma tia da mulher do Tó tinha uns assuntos pendentes relativos a umas propriedades em Paris. Por esse motivo, era uma viagem de trabalho. Eu apenas fui porque a tia deles me ofereceu a viagem. Obviamente que tanto o Tó como a sua mulher Ana tiveram a máxima importância e influência nesta viagem! Sem eles, de certeza que não passaria de mais uma de tantas outras em que estive para ir e...nunca fui!

Partimos do Porto às 19h10m e chegámos a Paris +/- às 21h00. Foi uma viagem sem percalços e reinou a boa disposição.

À nossa espera, estava um amigo do Tó – João – que, desde logo foi incansável e, sem ainda ter jantado, nos guiou pelo centro da cidade, descrevendo tudo quanto era importante indo mesmo aos pormenores. Tudo belíssimo, as ruas e montras todas cheias de luzes. Iluminações próprias dos enfeites da época em que estavamos - NATAL! Aquela avenida dos Campos Elisios linda com as luzes acesas, de um lado e do outro até ao cimo à Arca do Triunfo. Fiquei logo completamente fascinada!

João era um jovem muito culto, muito educado e que passou a ideia de que a sua família seria encantadora.

Depois de ficar completamente deslumbrada com Paris á noite, Tó levou-nos a jantar a um restaurante que jamais esquecerei – Les Grandes Marches – situado na Praça da Bastilha, bem ao lado de uma arquitetura moderna, mandada construir pelo Presidente Mitterrand.

A Ópera da Bastilha é uma casa de ópera da cidade de Paris. Foi construída na década de 1980 para substituir o Palais Garnier, que actualmente abriga apresentações de balé. É a sede oficial da Ópera Nacional de Paris. Tem capacidade actual de abrigar 2.703 pessoas. Esta moderna arquitetura do Argentino Carlos Ott divide ainda hoje a opinião dos Franceses quanto à sua beleza, ou não, quanto à sua modernidade envolta por tanta antiguidade e também quanto ao seu elevado custo.

Polémicas francesas à parte, eu estava dentro de um restaurante belíssimo! Tinha uma decoração antiga e riquíssima. Os candeeiros saíam de dentro de duas enormes conchas de ostras. Coisa linda de ver! As plantas espalhadas por toda a sala reflectiam-se por dezenas de espelhos que forravam todas as paredes do salão. (Uma pena terem mudado toda esta decoração, hoje este restaurante está completamente diferente. A sua riqueza e encanto deram lugar a uma moderna, pobre e vulgar decoração, comparada à anterior e que, felizmente ainda conheci).

As pessoas que lá se encontravam e as que iam entrando, também contribuíam para dar um aspecto ainda mais elegante e sumptuoso ao lugar. Acrescentando a tudo isto a nossa boa disposição, acabamos a noite em beleza total!

No dia seguinte, provei mais uma particularidade de Paris. Um frio intenso na casa dos zero graus. Foi mais um dos encantos que me fazia sentir que estava ali. Um dia de sol gelado, mas sempre rodeada de um encanto inexplicável. Foi assim que eu vi Paris logo que saí à rua pela primeira vez!

Era sábado, mas Leonardo e Tó tinham agendado algumas tarefas e eu pedi para ficar no Hotel para fazer um passeio guiado de autocarro pela cidade. Foram duas horas de passeio e foi realmente nessa altura que tive a certeza de que lá estava e de que não era um sonho.

Eu estava deslumbrada e apaixonada. Confesso que várias vezes me vieram as lágrimas aos olhos. Estava emocionada com tanta beleza que os meus olhos conseguiam alcançar. Só havia uma pessoa que naquele momento me compreenderia, minha filha Sofia. Ela adoraria estar ali comigo! Tenho a certeza de que ao olharmos tudo à nossa volta e, sempre que os nossos olhos se cruzassem, não poderíamos evitar que as lágrimas se nos soltassem, sem nada dizermos uma à outra.

Muito dificilmente, escolhi dois pontos da cidade, um pouco mais belos que os restantes.

- Palácio do Louvre (Palais du Louvre) – É um dos maiores e mais famosos museus do mundo. O seu pátio central, ocupado pela pirâmide de vidro, encontra-se na linha central dos Champs-Élysées, e dá forma assim ao núcleo onde começa o Axe historique (Eixo histórico). Eu estava completamente hipnotizada! Uma área extensa de mais de 160 m2 de uma beleza inigualável! Eu gostava de poder dizer muito mais acerca desta minha visão memorizada, mas infelizmente não sou capaz. Na minha memória está tudo devidamente gravado e é fácil ver e sentir tudo de novo. Basta-me fechar os olhos e...estou lá!

O outro ponto que escolhi foi:
- Os campos Elísios (Champs-Élysées) – Bem, toda aquela avenida com jardins estendidos por ambos os lados, Croissanterias, cafés, lojas lindas e ainda muito espaço verde para se poder fazer um pouco de tudo, encanta qualquer pessoa. Eu ia passando no autocarro e imaginava-me a namorar. Passear de mão dada e aos beijos, ao mesmo tempo em que fazíamos promessas e trocávamos palavras de amor. Imaginava-me a passear as minhas filhas em idades mais tenras. Deixá-las correr por ali fora e, depois do cansaço se apoderar delas, lancharmos num daqueles cafés lindíssimos.

Talvez a minha atenção tenha ido mais para estes dois pontos, por ser uma romântica assumida.

Recordo perfeitamente os momentos que tive neste passeio, em que me questionei, se era mesmo verdade ou um sonho, eu estar ali.

Findo o passeio, fiquei certa de que muito dificilmente qualquer outra cidade me encantaria tanto como Paris.

Quando nos encontrámos de novo os três no Hotel, fomos para a parte da cidade onde ficava a ÓPERA. Tudo me era já familiar, devido ao passeio que tinha feito, mas andar a pé pelas ruas é uma sensação única, é claro! Indiscritível a beleza que me rodeava. Olhava para um lado, via o edifício das Galerias Lafayette, mais à frente as Galerias du Printemps, virava-me para o outro lado, avistava a cúpula do Obelisco Egípcio da praça da Concórdia. Só sei que me estava a ser extremamente difícil absorver todo o panorama que me envolvia, sem que me sentisse meia tonta. Todo aquele frio que nos acompanhava, ajudava-me a despertar daquele estado ébrio em que algumas vezes eu me encontrava e do qual, sinceramente, eu não queria sair. Eu estava muito feliz!

Juntos, demos uma volta dentro de ambas as galerias. Depressa me apercebi que não iria ter tempo para compras. Não me deixei abater por isso, reagi vendo tudo, ou quase tudo, o que mais me saltava aos olhos, e pensei: “ o propósito desta minha vinda não foi vir às compras, por isso, vamos lá pôr de parte a mania das compras e desfrutar do que realmente vale a pena, ok Maria José?”. Depressa esqueci as compras. Era um mero pormenor.

Nessa noite, fomos jantar a casa dos pais do João. A nossa viagem foi sempre feita por baixo da terra. Primeiro metro, depois comboio. Mais uma vez fascinada com a organização dos Franceses. Ia-me apercebendo de como era fácil circularmos em Paris. Bastava atentarmos aos nomes dos locais escritos nas paredes do metro. Muito fácil.

Fomos para Marne La Valle, periferia de Paris. Bem perto da Euro Disney. Conhecemos os amigos do Tó e pais do João. Pessoas maravilhosas, simpáticas e muito acolhedoras. Presentearam-nos com uma soberba refeição, acompanhada de vinhos dignos de Deuses, mas a sua extraordinária simpatia, sobrepôs-se a todo o resto. Uma noite deliciosa e inesquecível! O João fez questão de nos levar de volta ao Hotel.

No dia seguinte, domingo, mais um dia radioso de sol e gelado. Havia um movimento ainda maior que no dia anterior. Juntámo-nos com o João, conhecemos a namorada, e juntamente com os pais dele, fomos almoçar noutro restaurante igualmente lindíssimo. Desta vez, a decoração eram relógios de parede. Centenas deles, todos diferentes e alguns, uma autêntica relíquia. Fomos muito bem servidos e mais um convívio que nos fez perder a noção das horas. Umas boas três horas que ficámos juntos sentados à mesa! Maravilhoso!

Despedimo-nos ao fim da tarde e cada grupo seguiu o seu destino. Nós os três preferimos caminhar, bem agasalhados. Passámos na famosa rua S. Denis. Aqui, tenho que, obrigatoriamente fazer uma descrição do que vi. Uma rua muito comprida, cheia de comércio, só utilizada por peões e muito famosa pela diversidade de mulheres seminuas nas entradas para as casas. Eram entradas muito estreitas, com longos corredores e muitas caixas de correio espalhadas pelas paredes. Na sua maioria, eram mulheres elegantes e bem apresentadas para o exercício da sua profissão, é claro! Muito bem maquiadas e cheirosas. Identifiquei vários perfumes, pelos cheiros que delas exalava. Só me falta acrescentar que, praticamente todas as lojas eram de venda de artigos relacionados com sexo e erotismo. Roupas, acessórios e vídeos. De vez em quando, o Tó fazia-me notar que a pessoa que eu estava a ver à nossa frente, não era uma mulher (embora nada o fizesse pensar), mas sim um homem. E foi tudo o que vi nesta rua.

Sempre caminhando, fomos procurar um sítio onde o nosso anfitrião Tó, nos queria levar a jantar. Ficava do outro lado do rio Sena, perto da Catedral de Notre Dame – Cluny Sorbonne – um cantinho a não perder. Jantámos num restaurante Grego com música ao vivo. Era um dueto de vozes masculinas delicioso. 

Mais uma vez comemos muito bem. 
O Tó escolheu Escargots, Leo o prato grego mais famoso, carne de porco no espeto cortada às tiras e eu uma costeleta de cordeiro na tábua, que estava deliciosa! Experimentei pela primeira vez o vinho grego, o qual não desgostei, mas sem dúvida que prefiro o nosso português.


No final, virei-me para Leo e disse:
- Leo, sabes pedir a conta em francês? Leo olhou-me como se eu estivesse a fazer a pergunta mais parva do mundo e respondeu:
- Claro que sei, ora essa, tu tens cada uma! - E continuou:
- Psst, la conte s’il vous plait!
Eu e o Tó, desatamos em uníssono numa gargalhada que só visto!

Leonardo só percebeu o que se estava a passar quando o empregado veio junto dele e lhe perguntou o que dissera, pois ele não tinha entendido. Aí, eu disse ainda rindo:
- L’ adission s’il vous plait. Merci
Como sempre e, tratando-se de um erro dele, Leo não achou muita piada ao sucedido.

De seguida, e satisfeitos com o repasto, continuamos caminhando em direcção ao Hotel. Atravessámos umas duas ou três pontes de pedra, por cima do Sena e eis que estávamos em frente a Notre Dame! Tentei memorizar ao máximo o aspecto sombrio, assustador e majestoso daquele monumento. Estava encerrado para restauração e limpeza, o que não dava para se entrar nas horas da visita normal. Nem por um momento deixei de imaginar o corcunda (Quasimodo) a viver ali dentro. Lembrei-me da história de Victor Hugo e seguimos até ao Hotel a falar sobre Esmeralda, Quasimodo, Notre Dame, Frollo, enfim eu estava a viver um verdadeiro sonho!

Só os nossos pés se mantinham quentes, o resto do corpo parecia adormecido. Estávamos a andar em sentido contrário à torre Eiffel, mais precisamente em direcção à Bastilha, local onde ficava o nosso Hotel. Quando finalmente lá chegámos, estávamos um pouco cansados, mas muito bem-dispostos. Depois de tirarmos todos os agasalhos, luvas, cachecóis, gorros, (Tó usava um gorro bem soviético), e as camadas de casacos, ainda ficamos um pouco no bar do Hotel, a organizar o dia seguinte, segunda-feira.

Bem cedo, tomamos o pequeno-almoço e eu ainda fiquei no Hotel, quando Leo e Tó saíram para irem ao Consulado Português e mais umas voltas que tinham a dar. Eu fiquei por minha conta e risco. Saí para a rua debaixo de sol, mas com a temperatura a -2 e lá fui eu toda feliz, sem rumo a descobrir Paris!

Todo o encanto, emoção e deslumbramento que já tinha experimentado, aumentou nesse dia. Poder movimentar-me só em Paris e sentir-me segura, estava a ser uma sensação óptima e única! Diverti-me imenso, mesmo só. Bem, não verdadeiramente só, porque sentia uma necessidade extrema de falar com Sofia e partilhar com ela as minhas sensações e emoções. Quase não conseguia dar um passo de um lugar que mexesse demais comigo sem lhe telefonar e falar com ela. Só de pensar nestes momentos com Sofia, arrepio-me toda. Nesse dia, escolhi um restaurante para almoçar, que mais parecia um jardim. Fantástico! Tinha plantas e flores naturais por todo o lado. No alto do tecto, havia uma enorme claraboia por onde entrava a luz do sol. Abundavam caras bonitas e pessoas muito elegantes também. Comi um bife grelhado com alho frito, feijão-verde e três tomates cereja. Acompanhei com um copo de vinho tinto delicioso Château Figeac. Tomei um café expresso, pois não aprecio sobremesas e raramente como doces a seguir a uma refeição. Mais um telefonema a contar tudo a Sofia, e estava consolada. Este restaurante ficava no 7º andar das Galerias Printemps e chamava-se Flô.

Mais uns passeios fora e dentro de lojas e o dia estava a terminar. Tó telefonou-me e combinamos encontrar-nos na entrada das Galerias Lafayette. Foi aí que soube que ele estava zangado, porque achava que o recepcionista do nosso Hotel lhe tinha ficado com o cachecol, o que o obrigara a comprar outro.

Seguimos novamente para casa dos pais do João, onde mais uma vez nos deliciámos com o jantar e a companhia. Levaram-nos de novo ao Hotel e o Tó estava ainda encrespado por causa do seu bendito cachecol. Como era hábito, sentámo-nos no bar do Hotel e ajudámos o recepcionista e uns ingleses a entenderem-se quanto a um pedido de vinho do Porto. Vinho sugerido, a conversa ainda levou o seu tempo, pois quando os ingleses souberam que éramos da terra da origem do vinho que eles tanto gostavam, quiseram saber o máximo que puderam sobre o assunto.

Terça-feira, dia de regresso a casa. Chovia. Um dia triste. Não apetecia rir. Fui reparando nas pessoas que estavam a tomar o pequeno-almoço na sala e ninguém me pareceu feliz. Parecia que tudo e todos estavam tristes com a minha partida (quanta ousadia e presunção minha!). Até Paris chorava por me ver partir. A viagem de táxi para o aeroporto, foi muito melancólica e muito triste para mim. Sempre a limpar o embaciamento da janela do carro para ver melhor o que me ia fugindo. Sempre a pensar que em breve tinha que lá voltar com todo o tempo disponível para usar como eu quisesse. Eu nem questionava a hipótese de isso não ser possível, apenas imaginava que muito em breve estaria de volta. Ah! Com toda a minha força eu vou conseguir isso e muito mais. Foram estes pensamentos, juntamente com a despedida e a gravação das imagens exteriores que iam passando por mim, ou eu por elas, que fiz a viagem até ao aeroporto.

Foi assim a minha primeira viagem a Paris. Faltou-me pouca coisa para ser perfeita. Do que senti mais falta foi de uma companhia, de preferência tão romântica quanto eu. Nesse aspecto, esta viagem seria um fracasso, caso eu fosse a contar com isso, mas como nunca esperei mais do que o que tive, foi maravilhosa!

Só tenho a agradecer ao Tó e à Ana, por terem tornado o meu sonho realidade! Já tive a oportunidade de lhes agradecer pessoalmente, mas nunca agradecerei o suficiente. Foi uma viagem que me marcará até ao resto da minha vida.

Entretanto, posso desde já adiantar que em Abril seguinte, voltei lá de novo e aí sim, foram 15 dias só para mim e para as minhas filhas!
19/12/96
(M.J.L.)


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