15/05/2013

A CUBANA E SUAS PROFECIAS


Para começar, tenho que dizer que, uma das coisas que sempre me deu muito prazer na vida, foi conduzir um carro. Desde que aprendi a conduzir, o meu prazer cresceu e, cada vez que trocava de carro, era sempre por um mais potente e tanto quanto possível, desportivo. Como tal, tornei-me numa condutora apelidada de “pé pesado” pelas gentes da minha terra. Como sempre me deslocava de carro para todos os lados e fazia muitas viagens de 100kms Régua – Porto, cruzava-me com muitas pessoas conhecidas. Algumas dessas pessoas contam muitas vezes algumas histórias engraçadas a meu respeito e, muitas vezes me fazem rir.
Já deu para entender que eu era razoavelmente conhecida como “acelera”. Felizmente, nunca sofri ou fiz sofrer nenhum acidente. Acho que o meu anjo da guarda até nessas aventuras me acompanhou sempre.

A história começa quando uma vizinha, proprietária de uma Boutique feminina me pede para a acompanhar a Madrid, servindo de sua motorista. Como ela não gostava tanto quanto eu de conduzir e a viagem era longa, pediu-me e eu, feliz da vida, aceitei de imediato com todo o prazer.

Trimestral ou semestralmente, lá íamos nós as duas a Madrid fazer compras para a Boutique. Era uma viagem de um pouco mais de 500kms que eu fazia bem em 6h. Viajávamos no comercial dela de dois lugares, a gasóleo e foi sempre perfeito.

Era uma viagem muito pouco, ou mesmo nada prazerosa, a não ser mesmo para quem gostasse de conduzir. Eram 3 a 4 dias estafantes. Entrar e sair em lojas de manhã à noite. Ao fim da tarde, regressávamos ao Hotel, tomávamos um banho e descansávamos até à hora de jantar. Desde o momento em que chegávamos, nunca mais pegávamos no carro, a não ser na hora de regresso a casa. O Hotel ficava no coração de Atocha, local onde ficavam as lojas de revenda. As nossas paragens durante esses dias eram apenas para comer e beber. Muito cansativo, mas eu gostava.

Um belo dia, a minha vizinha de nome Mariana virou-se para mim e disse-me:
- Vitoria, há por aqui perto um bar cubano que tem uma taróloga e dizem que é muito boa. Que acha de lá passarmos para ver como é?
Eu olhei para ela e respondi:
- Claro! vamos lá embora!

As ruas à volta da Praça de Atocha, eram bem estreitas e cheias de casas de “tapas” que em Português quer dizer petiscos. Ruas cheias de gente, quer de inverno, quer de verão, só para peões e um ambiente sempre acolhedor e nada perigoso, tal como se vê na foto, pois esta história passou-se nesse bar.

Lá fomos nós jantar, como de costume, e depois seguimos à procura do tal bar cubano. Muito fácil de encontrar, talvez por ser o único cubano e também porque a música cubana é estridente e convida a entrar e até dançar.

Logo quando nos aproximamos, ouvimos a salsa e vimos uma janela aberta. Nessa janela havia uma vela acesa e um copo com água. Dentro, estava uma mulher pequena sentada, de pele escura, maquiada com eyeliner preto nos olhos e batom vermelho, de bastante idade, com o cabelo preto apanhado no cimo da cabeça, com umas grandes argolas nas orelhas que pareciam de ouro amarelo e manejava um baralho de cartas de tarôt. Em frente a ela, na mesa, estava uma moça nova que me chamou a atenção pelo olhar fixo na cubana. Parei, fiquei a olhá-las e elas nem deram conta, tal era a concentração de ambas.

Através dessa mesma janela, deu para vermos que o bar estava cheio e que havia muita animação.
Entramos e, logo de imediato, dois cubanos nos agarraram e nos puseram a dançar, sem dar tempo a dizermos que não. Aquela dança cheia de cor e música latina que eu adoro, mas que infelizmente, nem um passo sei dar.

Pelos vistos, era da praxe do bar, pegarem na mão de quem entrava e darem umas voltas pelo bar. Uma mera brincadeira que durou talvez um minuto e que logo nos conduziram a uma mesa.

Adoramos o ambiente e a alegria de toda a gente que lá estava. Logo vieram perguntar-nos se queríamos beber algo e se o nosso propósito era o de consultarmos a cubana.

Eu respondi que sim e a moça informou-nos que apenas tínhamos mais uma pessoa à nossa frente, para além da que estava a ser consultada.

Aqui, e aproveitando a espera, eu vou ter que dizer que a minha relação com Mariana era de pouca intimidade ou nenhuma. Eramos vizinhas porque a Boutique dela ficava no pequeno centro comercial que ocupava todo a entrada do prédio onde eu vivia. Eu era cliente da loja dela, mas nada mais que isso. As nossas conversas nunca ultrapassaram o banal. Da vida dela, sabia-se o suficiente para dar azo a comentários de várias opiniões. Da minha, nada se sabia, apenas que estava muito bem casada e era muito feliz. Quem sabia verdadeiramente o que se passava e o que ia dentro da minha cabeça e coração era apenas eu. É mais que evidente que, eu não estava minimamente interessada em que mais alguém o soubesse senão eu.

Finalmente chegou a nossa vez. Olhamo-nos para ver quem seria a primeira. Mariana perguntou de imediato à cubana se eu me podia sentar ao lado dela e assistir à sua consulta. A cubana assentiu e Mariana puxou-me pelo braço para ir com ela.

Aí, eu fiquei um pouco inquieta, pois já estava a ver o que vinha a seguir. Contudo, como eu sempre fui muito céptica nestes assuntos, sou mais do género “ver para crer”, acabei por me acalmar e ficar atenta ao espanhol da cubana.

Logo na primeira rodada de cartas que ela lançou na mesa, acertou em cheio! Daí até ao final, foi uma verdadeira chuva de adivinhações acertadas! Conforme ela falava, nós olhávamo-nos completamente espantadas. A cubana acertava em tudo e deu-lhe alguns conselhos. Depois de ter falado tudo, perguntou a Mariana se ela queria fazer algumas perguntas, o que esta aproveitou. Terminou a consulta e era chegada a minha vez.

É evidente que Mariana se sentou ao meu lado e lá começou a “dança” da cubana comigo.

Quando me lançou as primeiras cartas, disse assim:
- Tu és completamente diferente da tua amiga. Pensas e vives com o coração em primeiro lugar. Por isso na tua vida vais ter um “guapo” muito “guapo”. – Eu não tinha entendido bem o que ela queria dizer e pedi-lhe para ela repetir.

A cubana não disse nada e voltou a baralhar as cartas, pediu-me para dividir o baralho em 3 partes e lançou-as de novo pela mesa, dizendo:
- Vais ter um jovem na tua vida que te vai amar muito. O teu casamento está no fim e só tu sabes disso. O teu marido nem sonha que o vais deixar. Ele é mau, muito violento. Vais ter que ter muito cuidado e saber lidar com essa situação muito bem. O teu marido abusa de ti e tu já desististe de lutar pelo teu casamento. Acabou! Já não há mais solução para vós. O problema é ele nem sonhar isso! – Disse a cubana.

Bom, eu estava petrificada. Mariana olhava-me incrédula e tenho quase a certeza de que pensou que a cubana estava embriagada ou maluca!

Eu estava tão baralhada que já nem me importava de não estar só. Apenas queria saber tudo o que aquela velha cubana tinha para me dizer.
E ela continuou:
- Vitoria, em breve vai-te aparecer um grande amor, só que é muito mais jovem que tu. Não te assustes porque ele é muito bom e vai-te fazer muito feliz.
Voltou a baralhar e eu a dividir as cartas em 3 partes e continuou:
- Vais mudar de País. Tu e ele, ides viver para um País muito longe do teu. Vais sofrer com as saudades da tua família e amigos, mas vais estar muito bem. Só tenho que te advertir para teres muito cuidado com o teu ex-marido, pois ele é uma pessoa doente e má. É capaz de cometer uma loucura, pois ele vai ficar quase louco. Muito cuidado!

Eu usava uns brincos com pérolas e ela disse:
- Não esqueças uma coisa que te vou dizer. Nunca use pérolas sem ser em festas ou ocasiões especiais. As pérolas absorvem todas as energias negativas. São absorventes por natureza, e devido a isso, devem ser usadas com cautela. Na tradição esotérica acredita-se que "se o fio de um colar de pérolas se romper, simboliza a saturação negativa que foi absorvida". Por tudo isto, e em ti principalmente, deixa de as usar diariamente entendido? Vais passar uma fase da tua vida que a inveja vai ser muito maior que a que sofres agora e olha que já é bastante, aliás sempre foi!

As perguntas que eu fiz, relacionaram-se com ambas as minhas filhas, Carlota e Sofia. Ela disse-me que ambas estavam bem e iam reagir bem à minha mudança de vida, mas que seguiriam suas vidas em Portugal e não comigo. Repetiu, dizendo-me que o meu problema não seriam as minhas filhas, mas sim o meu ex-marido (que ainda era meu marido e ela só o chamava de ex-marido).

Acabada a consulta e, para não variar da minha parte, como eramos as últimas, eu comecei a fazer perguntas à cubana.
- Você que vê a vida dos outros, também vê a sua?
Ela respondeu sorrindo:
Às vezes, mas evito.
- E porquê? Até devia ver sempre, para evitar cometer erros e ter uma vida mais feliz.- Insisti eu.
- Olha, sabes uma coisa? A minha vida está um caos. Tenho 74 anos, apaixonei-me por um “guapo” em Cuba e trouxe-o comigo para cá. Passados 6 meses, tinha a mulher dele e 2 filhos pequenos a baterem-me à porta. – Respondeu a cubana toda sorridente.
- O quê? – Perguntei eu espantada.
- É como te digo. O meu “guapo” não é como o que te está reservado, este é um safado, mas eu não passo sem a sua presença! – Continuou ela sorrindo.
- Mas e que foi que você fez com a mulher dele e os filhos, mandou-os todos embora de volta para Cuba?- Perguntei cada vez mais curiosa.
- Claro que não! Vivem todos na minha casa cá em Madrid! Cada um de nós tem o seu destino traçado ao qual jamais se pode fugir, este é o meu. – Respondeu a cubana.

Pagamos 20€ cada e saímos num autêntico alvoroço emocional. Quer dizer, eu saí assim, porque Mariana levou tudo isto numa brincadeira e só me dizia:
- Que sorte a minha! Eu com um velho e a Vitoria com um jovem muito mais novo! Esta cubana é mesmo maluca. Ainda por cima a dizer que você se vai divorciar do Dr. Leonardo! Ela não bate bem daquela cabeça, só pode! Ah ah ah. – Mariana não parava de rir.

Eu tentei rir também, mas estava completamente baralhada, confusa e não parava de pensar no que ela me tinha dito. O que mais me tocou, foi o que ela disse em relação ao que eu sentia. Em relação ao divórcio iminente. Que só eu sabia. O que ela disse de Leonardo, só eu e as minhas filhas sabíamos, como é que ela sabia de tudo? Como era possível? Saber da minha vida, do que eu sentia e do feitio de Leo?

Não fosse a história do “guapo”, à qual eu não dei a menor importância, quase me convencia de que era uma sábia taróloga!

Bom, com o tempo esqueci toda esta experiência que tive com a cubana. Passado mais ou menos um ano estava divorciada! E agora? Haveria algum “guapo” a caminho? Mudaria a minha vida e de País também? Nessa altura nem me passavam pela cabeça as “profecias” da cubana! (M.J.L)

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